segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Literalismos

Toda a gente já ouviu falar em hat-trick. Para alguns, é o simples acto de marcar três golos num jogo. Para outros é marcar três golos consecutivos num jogo. Outros há ainda que dizem que têm de ser alcançados todos nas mesma parte. Finalmente, os que afirmam que o verdadeiro hat-trick é aquele em que o jogador marca um com o pé direito, outro com o esquerdo e o outro com a cabeça.

Na verdade, existem inúmeras definições para hat-trick, mas nenhuma é tão literal como a que existe no hóquei em gelo norte-americano. Como a imagem em cima documenta, os adeptos levam a sério o termo e congratulam o jogador com a oferta de... chapéus.

A tradição começou em Guelph, Ontario, com os Biltmore Madhatters (que fazem parte dos NY Rangers). A explicação é simples. Biltmore Madhatters, o nome do principal patrocinador, é um fabricante de chapéus e decidiu que os jogadores que conseguissem um hat-trick teriam direito a um chapéu gratuito. A tradição pegou e, pouco depois, foi Sammy Taft a fazer o mesmo nos Toronto Maple Leafs. Não faltou muito até toda os adeptos começarem a fazê-lo.

Tempos houve que outros adeptos, como os dos Florida Panthers, decidiram inovar e atirar ratos de plástico (existe uma explicação e está relacionada com um jogador), mas a NHL interviu de pronto e proibiu ratos no gelo. Aliás... não foram apenas os ratos a serem proibidos, mas também todos os outros objectos... excepto os chapéus.

O último a fazê-lo, na NHL, foi o jogador dos Boston Bruins David Krejci, que na última quinta-feira apontou três golos no triunfo por 8-5 frente aos Toronto Maple Leafs. A imagem documenta que em Boston a tradição segue-se... à risca.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O Ídolo de proximidade

Michael Schumacher, Pete Sampras, Roger Federer, Tiger Woods, Lance Armstrong, o "Dream Team" do Barcelona. Figuras que dominaram um período da história da modalidade em que se distinguiam e com isso atraíram a si milhões de fãs por todo o Mundo.

Eram exemplos de superação e modelos para miúdos e graúdos que torciam pelos sucessos como se do próprio clube se tratasse. No entanto, não eram amados por todos. Schumacher era considerado perigoso e arrogante, Sampras não tinha grande aceitação na Europa e Lance Armstrong ainda hoje é odiado pelos franceses.

Pegando neste último caso, coloca-se a pergunta "porquê?". Lance é realmente um exemplo único de superação e de domínio absoluto na Volta à França em bicicleta, mas nunca teve uma boa relação com a imprensa francesa. A personalidade característica dos franceses impede-os de idolatrar uma figura estrangeira, especialmente quando os ciclistas franceses não ganham qualquer prova de destaque há muitos anos.

É este carácter de proximidade que influencia muito o destaque e emoção dada a uma modalidade. Numa crónica da Sports Illustrated, a revista de desporto mais conceituada dos Estados Unidos, Bryan Armen Graham afirma: "Na nossa cultura, um desporto é muito pouco popular se o melhor não é um norte-americano. Durante os anos 90, quando Jim Courier, Pete Sampras e Andre Agassi dominavam o ranking ATP, o ténis foi capa da SI 18 vezes... desde 2000 apenas cinco. O futebol, que se mantém como o desporto mais popular do Mundo com anos-luz de vantagem, mantém-se uma modalidade de culto nos EUA porque a selecção nacional não tem argumentos para vencer um Mundial num futuro próximo. A máxima acaba por ser "se não somos os melhores, provavelmente não valerá a pena fazê-lo".

E por que diz Graham isto? Para analisar a situação que o boxe vive na terra das oportunidades. Longe do fulgor do passado, os Estados Unidos estão em queda e assistem quase que impávidos e desinteressados ao domínio do bloco oriental da Europa, que domina em todas as categorias. Já sem heróis, que outrora eram manchetes de jornais e denominados como os "grandes invencíveis" e campeões do Mundo, os EUA são agora um país sem esperança para destronar as figuras.

Talvez por isso, o ucraniano Wladimir Klitschko seja um rei sem trono. Campeão mundial de pesos pesados, o europeu não perde há mais de quatro anos. O saldo da carreira tem um impressionante registo de 52 vitórias e três derrotas, sendo que 46 triunfos foram alcançados por knockout.

No entanto, continua sem passar de um simples desconhecido, ignorado por muitos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Homem das alturas

Lembram-se de Ken Mint? O homem de 73 anos que joga basquetebol apesar da idade? Esqueçam a idade. É um jovem comparado com Fred Beckey, um alpinista de 85 anos que continua a desafiar as alturas e já traçou o novo objectivo: Norte de Espanha.

A história, como não podia deixar de ser, tem mais uma vez a chancela inconfundível do The New York Times. Para se ter uma noção da antiguidade de Beckey, poderá dizer-se que quando o Evereste foi escalado pela primeira vez, em 1953, já este alpinista de corpo e alma tinha 30 anos.

Apesar de não ter sido o primeira nos Himalaias, Beckey é o montanhista em actividade com mais topos virgens, ou seja, nunca ninguém subiu tantas montanhas pela primeira vez como ele. Este génio das rochas, neve e natureza tem uma modo de operação muito próprio. É considerado um homem frio, solitário e pouco dado a partilhar sabedoria. Ainda assim, não deixa de ser uma lenda viva para todos os verdadeiros apreciadores da modalidade.

Talvez por isso, a novidade da aventura ao Norte de Espanha tenha sido adiantada com grande ansiedade nos fóruns. "Pode ser uma possibilidade remota, mas está à procura de um companheiro", lia-se.

De origem alemã, de nome completo Wolfgang Paul Heinrich Beckey, este alipinista octogenário sofreu no passado pelo mau trato. De facto, em 1960, sete anos depois da primeira chegada ao Evereste, Beckey ficou de fora dos convites da primeira expedição americana. Várias gerações depois, os "miúdos" já o vêem de outra forma. Aos 28 anos, Dave Burdick considera que "Beckey já esteve em todo o lado e fez sempre coisas fantásticas".

Se antigamente fugiam dele e queriam distância, hoje fazem fila. Diane Kearns estará com Beckey em Espanha. Para ela, o importante não é tanto a subida, mas sim estar com o alpinista. "A oportunidade de o ver é tremenda. É uma lenda do seu tempo", reconhece.

Aos 85 anos, Beckey não dá sinais de se querer retirar nem de se limitar a escrever livros sobre elefantes, candidatar-se a presidenciais ou simplesmente inscrever-se em clubes de sueca. Continua fiel a uma vida repleta de marcas que se esforçou por alcançar e exactamente com as mesmas motivações.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Figuras desaparecidas

Tem nome de jogador e de país, mas nem por isso um passado repleto de grandes feitos no futebol. Passou por Portugal, mas não sem antes ter sido uma das grandes contratações de um colosso europeu. Não singrou e seguiu de empréstimo em empréstimo.

Em Portugal, no Minho ao serviço do Vitória de Guimarães, as estatísticas nem foram más: 4 golos em 11 jogos. Muito melhor do que nas passagens por Valladolid e Toulouse (também por empréstimo do Real Madrid), Levante e Recreativo Huelva. A melhor fase da carreira, além do Once Caldas, onde se formou e despontou para a ribalta, foi mesmo em Gijón, onde apontou 11 golos em 34 jogos na temporada 2006/07.

Infelizmente, tal como muitos outros, decidiu abandonar o clube, onde era acarinhado pelos adeptos para jogar na Liga Espanhola (6 jogos ao serviço do Recreativo). Os adeptos reagiram mal, chamaram-lhe "pesetero" e, de certa forma, agouraram-lhe o futuro. Venceu o "Molinón del Plata" (melhor jogador da equipa), mas isso não o demoveu a tentar voos mais altos e "desprezou" o prémio ao faltar à cerimónia.

José Maria Suárez Braña, presidente das claques da equipa, tentou contactá-lo, mas sem êxito. "Não nos atendeu nem respondeu às nossas mensagens. Talvez não o mereça, mas foi o resultado da votação das nossas claques e, apesar de termos sido pressionados, optámos por fazer o mais lógico", explicou.

Actualmente? Joga, apenas para manter a forma e esperar um contrato melhor, no Olímpic Xátiva, da Regional Preferente, uma divisão que os portugueses ignoram por completo e, para ser sincero, só hoje ouvi falar dela.

Ao que parece, este avançado está a impressionar e em dois jogos já leva três golos, mesmo que na distinta divisão da Comunidade Valenciana, que resumindo para hierarquias corresponde à quinta divisão.

Resta dize que no Vitória de Guimarães jogou ao lado de nomes como Tomic, Carlos Alvarez, Feijão e Sion. O seu nome... Edwin Congo!

Nota ao Master Kodro: Encara o post sobre os vimaranenses como uma recepção de boas-vindas a este espaço.

Jogo sem regras

Quantos de nós já participaram num jogo sem conhecer as regras na perfeição? Na verdade, até no futebol, o desporto que passa diariamente na televisão, às vezes com múltiplos jogos, existem situações em que a situação é difícil de definir porque remetem para formas de actuação muito invulgares.

Ainda assim, todos nós nos consideramos suficientemente aptos para ver um jogo e analisar se as situações estão a ser bem ajuizadas ou não. No campo oposto, está o futebol americano. Poucos são os portugueses que os dominam, muito por culpa de só termos um jogo por ano (o da Super Bowl) transmitido por canais portugueses. Aqui, não se sabem as regras. Vê-se o jogo, ouvem-se os comentadores explicar o pequeno manancial para interpretar a partida e pouco mais.

De certa forma, sentimo-nos ignorantes, mas ávidos de acolher uma nova realidade e aumentar a nossa capacidade de conhecimento do jogo. Ainda assim, um recente trabalho da ESPN demonstrou que não somos os únicos. Recentemente, o jogo entre os Philadelphia Eagles e os Cincinnati Bengals terminou empatado. Após um prolongamento, a situação manteve-se e os árbitros deram por terminada a partida (para alguns cairá agora o mito de que no desporto americano nunca há empates), de acordo com as leis do jogo.

O quarterback dos Eagles, Donovan McNabb, deu o primeiro passo para a descoberta do verdadeiro conhecimento dos jogadores e revelou que não sabia que um jogo da NFL poderia terminar empatado. Foi apenas a pedra de toque.

A partir daqui, a ESPN partiu para uma aventura em busca de jogadores que pudessem esclarecer com propriedade algumas situações invulgares do jogo. O resultado foi catastrófico como se pode ver aqui.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Era uma vez... o basquetebol

"Quando toda a gente via um cesto de fruta, alguém viu o basquetebol". A frase é de um anúncio a uma bebida alcoólica, mas remete para uma história verídica que se passou neste mesmo dia, 15 de Dezembro, mas de 1891. Esta é a história que retrata na perfeição o início do basquetebol.

A personsagem principal é James Naismith, um canadiano que era professor de Educação Física em Springfield, Massachusetts. Face ao duro Inverno, Naismith estava confinado às actividades de pavilhão e foi praticamente que forçado pelo director da escolha, Springfield College, Luther Gulick, para criar um jogo de pavilhão com finalidades atléticas num prazo de 14 dias. Segundo as crónicas, teria de ser um jogo que "não ocupasse muito espaço, ajudasse os atletas a manter a forma e, acima de tudo, que não fosse demasiado duro e que se tornasse justo para todos".

Continuando por alguns relatos da altura, Naismith analisou os principais desportos da altura e considerou os principais perigos e os propícios ao confronto físico. Desta forma, o novo desporto só teria uma forma de transportar a bola: através do passe. Decidiu ainda que o objectivo estivesse num patamar que não pudesse ser defendido de forma tão "física" como no futebol ou no hóquei, ou seja, o cesto (basket) ficaria colocado a uma altura considerável. O "basquetebol" estava criado, bem como as 13 regras básicas.

Estava criada uma história de sucesso. As regras foram-se alterando (no início eram nove contra nove, a bola era de futebol e os cestos, como hoje os conhecemos, eram cestos de fruta... mais propriamente de pêssegos), mas a essência do jogo manteve-se. Houve quem tentasse chamar ao jogo "Naismith Ball", mas acabou por ser o próprio a deixar a ideia de lado.

Em 1904, nos Jogos Olímpicos de St. Louis, a modalidade foi apresentado oficialmente, mas só se tornou olímpica vários anos mais tarde, em 1936 nos Jogos de Berlim. Em sinal de homenagem, foi Naismith a entregar as medalhas, três anos antes de morrer.

Resta apenas dizer que o primeiro jogo oficial foi realizado no ginásio do YMCA a 20 de Janeiro de 1892, com uma das equipas a ganhar por "concludentes" 1-0.

Mas... mas... mas... e agora?

Não são sinais de gaguez, mas de indecisão. Vamos falar num cenário hipotético. Última jornada de um campeonato e há quatro equipas a lutar pelo título. Os estádios estão cheios e os adeptos ávidos que as partidas acabem para poderem festejar um título, que para alguns é uma reconquista e para outros é um feito singular na história do clube.

Das quatro equipas, três seguem com os mesmos pontos e uma está ligeiramente mais atrás, a precisar de um milagre. Os jogos começam, à tarde, e todos à mesma hora. Não é preciso esperar muito para surgir o primeiro golo e os primeiros gritos de êxtase. "Se acabasse agora...", pensam alguns, pedindo por tudo que não aconteça mais nada.

No entanto, como não poderia deixar de ser num campeonato onde os golos surgem uns atrás dos outros, as outras equipas adiantam-se também. Estão todas em vantagem. E como é o confronto directo, poderão estar a pensar alguns. Outros fazem contas aos golos e à necessidade de ganhar por muitos. Indiferente.

O jogo acaba e aquele dia de festa torna-se num adiamento. Não há campeão. Estamos na Argentina. Prossigamos então agora pelo cenário real. Boca Juniors, Tigre e San Lorenzo terminaram hoje as 19 jornadas do torneio de Abertura em igualdade pontual. Os critérios argentinos são claros e em caso de empate terá de haver uma finalíssima.

Contudo, desta vez são três equipas, por isso a festa vai seguir e vai haver um triangular. É uma situação estranha e não sei se será apenas muito invulgar ou mesmo inédita. A verdade é que o futebol até tem a ganhar com esta emoção e com os jogos extra.

Comparativamente, é um critério muito mais espectacular do que o que se vive no fundo da tabela. O River Plate, campeão do Clausura em título, ficou em último. "Segundona"? Nada disso. O modelo argentino foi alterado há uns anos exactamente para evitar que os cinco grandes desçam. Os millionarios safam-se porque o critério é a média de pontos dos últimos anos.

Argentina, Argentina...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Filhos de Figuras

Crescer na sombra de uma figura desportiva é uma tarefa complicada. Desde cedo surgem as comparações com o pai ou a mãe e a pressão aumenta. Estar ao mesmo nível tem-se revelado quase sempre uma tarefa hercúlea, mas a história traz alguns que conseguem pelo menos chegar a um bom estatuto.

Actualmente em Portugal, Miguel Veloso será o melhor exemplo. O pai, "apenas" Veloso, fez carreira no Benfica e na Selecção Nacional como lateral e somou títulos nacionais atrás de títulos nacionais. Internacionalmente, ficou conhecido por falhar uma penalidade decisiva numa final. Curiosamente, a última vez que ouvi falar dele, como treinador do Atlético da Malveira, foi precisamente numa final perdida, a da Taça de Lisboa, frente ao surpreendente Freiria. No passado, houve Rui Águas. Apesar de não ter conquistado os títulos internacionais do pai (José), Rui conseguiu construir uma carreira que afastou o rótulo de ser apenas "o filho do José".

Lá fora, as grandes figuras de sempre foram, e são, Pelé, Maradona, Di Stéfano, Cruyff, Eusébio, Platini e mais alguns. Desta lista, apenas os filhos do brasileiro e do holandês tiveram, ou têm, passagens pela modalidade. Se no caso de Pelé, o filho guarda-redes foi um flop que envergonhou o nome com sucessivas polémicas e ligações a droga, Jordi Cruyff conseguiu construir algum nome.

Nascido na Catalunha, Jordi cresceu na cantera barcelonista e estreou-se na equipa principal aos 20 anos. Longe de evidenciar o fulgor de Johan, Jordi marcou 11 golos em 45 partidas e após duas temporadas abandonou o clube, coincidindo com a saída do pai. O destino? Manchester.

No United, foi arrasado por lesões e apesar de ter estado numa das equipas mais ganhadoras da história, não conseguiu o sucesso pretendido e foi emprestado ao Celta de Vigo. Mais um insucesso e consequente final de contrato sem renovação. Nesta altura, quando se esperava que se apagasse definitivamente, Jordi chegou ao Alavés. Aí, fez parte da equipa que surpreendeu a Europa do futebol e obrigou o Liverpool ao prolongamento da final da Taça UEFA com o empate a quatro golos.

O destaque fê-lo regressar à Catalunha, ao Espanyol, mas mais uma vez fracassou. O final de carreira, aos 30 anos, adivinhava-se. E foi assim que ficou durante dois anos, apesar de treinar com a equipa B do Barcelona apenas para manter a forma. A questão é: o que faz Jordi neste momento? É companheiro de Mário Sérgio e Ricardo Fernandes nos ucranianos do Metalurg Donetsk.

Razoavelmente surpreendido? Há melhor. Não é colega de sector de Ricardo Fernandes no meio-campo ofensivo, mas sim de Mário Sérgio na defesa. Jordi é actualmente, aos 34 anos, defesa central.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Velhos são os trapos

Vamos falar de 73 anos e de desporto ao mesmo tempo. Se fosse nascido, Elvis Presley teria 73 anos, mas não é dele que se trata, até porque aquele jeito especial de tremer as pernas nunca esteve perto de ser ginástica artística. Possivelmente, trata-se de um qualquer treinador, de uma modalidade qualquer. Com uma breve pesquisa, descobre-se que o antigo internacional alemão Udo Lattek tem 73 anos e até já foi treinador, mas continua a não ser o visado.

Estamos a falar de um basquetebolista que continua a jogar, ou melhor, que recomeçou a jogar basquetebol ao nível dos liceus. A pessoa em questão, Ken Mint, é dada hoje a conhecer por uma reportagem do The New York Times. Esta é a história de um puro desportista que a certa altura da vida cansou-se de ser... velho.

Então, o atlético "idoso" enviou uma carta para várias liceus na proximidade de Knoxville, no Tennessee, a pedir por uma oportunidade. A verdade é: Mint tem 73 anos (72 quando escreveu). O que faria um técnico dar uma oportunidade a um base com essa idade? A reacção da esposa foi natural: "Comprendes que tens 72 anos? Achas que vais convencer alguém que não?"

Ainda assim, o técnico do liceu de Roane State, Randy Nesbit, deu-lhe uma oportunidade, mas principalmente devido à curiosidade da situação, de ver quem era aquele indivíduo que aos 72 anos continuava a considerar-se capaz de praticar desporto.

Como seria de esperar, as reacções dos treinadores adversários foram estranhas. Uns ameaçaram os jogadores de que iriam para casa a pé se ele marcasse algum ponto, enquanto outros fizeram questão de que o defesa que lhe permitisse marcar iria ser motivo de troça para sempre.

A verdade é que a 3 de Novembro, Mink marcou dois pontos. Após receber a bola, simulou o lançamento e acabou por sofrer falta. Da linha de lance livre, não perdeu a oportunidade e converteu ambos. E agora, qual será o próximo objectivo? "Chegar aos duplos dígitos". Contudo, desengane-se quem pense que é o objectivo para um jogo. Mink sabe das suas limitações e gostava de terminar a época com pelo menos 10 pontos.

O treinador sabe a razão para as más "exibições". "A produtividade dele tem baixado desde que cortou o bigode", ironiza. Apesar de admitir as brincadeiras, Mink sabe que tem o respeito dos colegas e tem sempre uma resposta na ponta da língua, já que faz questão de relembrá-los que conhece pessoas de altas instâncias. Na verdade, é apenas um ciclo vicioso, já que a resposta é inevitável: "Onde, no Paraíso?"

Quando não estão nos treinos, alguns jogadores, os mais jovens, organizam festas. Mink é convidado, mas a esposa não dá permissão. Nesbit compreende a decisão. "Se começa a ir pelos maus caminhos é sempre a descer", volta a ironizar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Homens de armas

Filme dos muitos que costumam passar no canal Hollywood. Um wide-receiver desconhecido recebe uma bola e, quando estava prestes a ser placado, tira uma arma do equipamento e mata o adversário. Após conseguir o touchdown suicida-se.

A questão é... serão os jogadores de futebol americano assim? Os últimos meses parecem garantir que sim. Na verdade, quando comparados com os atletas de outras modalidades profissionais norte-americanas, como a NBA, MLB e a NHL, são considerados mais problemáticos, muito por culpa de serem oriundos de meios sociais também eles mais problemáticos e perigosos.

Plaxico Burress, autor da recepção mais espantosa dos últimos anos na SuperBowl (nos Giants frente aos Patriots em Fevereiro deste ano), foi o último a entrar nesta lista. A versão oficial afirma que o jogador atingiu acidentalmente a coxa direita num espaço de diversão nocturna. A história tem muito de bizarro, mas também de estranha.

A verdade é que os ferimentos foram apenas ligeiros e dias depois Burress já se movimentava sem apoios. O pior ainda estava para vir. Os Giants não acharam piada à história e suspenderam-no, garantindo que não voltaria a jogar até ao final desta época, mas é a polícia quem maiores dores de cabeça dará a Plaxico.

O "Giant" é agora acusado de dois crimes de posse de arma ilegal e arrisca uma prisão superior a três anos. Tal como o The New York Times afirma, Burress tem umas mãos que valem 35 milhões de dólares, mas um cérebro de cinco cêntimos.

Em Setembro, foi Richard Collier a ter o destaque da imprensa. O jogador dos Jacksonville Jaguars foi atingido por 14 vezes por Tyrone Hartsfield, sujeito com quem tinha tido uma altercação num bar em Abril. Como consequência, Collier ficou paraplégico da cintura para baixo e teve de amputar a perna esquerda do joelho para baixo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Uma visão privilegiada do futuro?

A ideia do laboratório Atlas Sports Genetics (ASG) é simples. Defende que é possível fazer um teste às crianças por 149 dólares (118 euros) para determinar a presença de um gene específico
(ACTN3) que influencia a propensão atlética.

A sua composição permitirá saber se a criança está mais habilitada para desportos de velocidade ou de resistência. No entanto, esta inovação não é consensual. O director do centro médico da Universidade de Califórnia-San Diego, Theodore Friedmann, garante que o teste “não é assim tão claro” e que deveria ser estudado melhor antes de se tornar público.

Stephen M. Roth, da Universidade de Maryland, vai ainda mais longe e diz que a análise de um único gene é demasiado redutora, visto que a performance atlética pode ser influenciada por, no mínimo, 200 genes.

O presidente da ASG, Kevin Reilly, confessa que já esperava algumas dificuldades na recepção da novidade, em declarações ao NewYork Times. Segundo o responsável, algumas pessoas temiam que o teste provocasse “um renascimento do eugenismo, semelhante à tentativa de Hitler de criar uma raça perfeita”.

Ainda assim, Kevin Reilly opta por destacar as vantagens do sistema: “É um método de ajuda para as crianças poderem realizar os seus potenciais e não perderem tempo em outras actividades.”

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Jordan das "meias brancas"

Não, não se trata de um texto humorístico para analisar as tendências da moda de um dos melhores jogadores da história da NBA. Não se trata da famosa meia branca com o desenho da raquete. Meia branca, ou meias, até há, mas em vez da raquete, está um taco... de basebol.

Michael Jordan é um nome que dispensa apresentações. É considerado como um dos maiores atletas de sempre e no basquetebol conquistou tudo o que havia para ganhar. Quando se fala em MJ, será difícil não se associar imediatamente a Chicago, mais propriamente aos Chicago Bulls. Mas na verdade, quantos são aqueles que são capazes de o associar aos Chicago White Sox (da MLB)?

Na verdade, são precisamente os Chicago White Sox, e a sua ligação a Jordan, que são capazes de explicar o facto dos Houston Rockets terem ganhos dois campeonatos na década de 90. É que em 1993, após ter sido campeão pela terceira vez com os Bulls, Jordan decidiu enveredar pelo basebol, cumprindo assim um sonho que o seu pai tinha alimentado desde que Michael nascera.

Aproveitando as ligações entre os proprietários das duas equipas, MJ assinou um contrato com os White Sox. A decisão foi tomada precisamente no ano em que o pai, James Jordan, foi assassinado numa auto-estrada na Carolina do Norte. Acima de tudo, o astro do basquetebol quis honrar o pai.

Nos White Sox, Jordan estreou-se num jogo de exibição frente aos Chicago Cubs, onde chegou a surpreender ao ter três hits nas cinco vezes que foi chamado a bater. Ainda assim, o contrato era para uma equipa das ligas secundárias com ligação aos White Sox: os Birmingham Barons.

Jogando como outfielder, Jordan registou uma média de .202, com 3 home runs, 51 RBI e 30 bases roubadas, o quinto melhor registo da Liga. Sem ter o sucesso natural que teve nos Bulls, Jordan era visto com algum desdém pelos outros jogadores de basebol. Uma vez, um chegou mesmo a afirmar que Jordan não seria capaz de acertar numa bola curva, mesmo que tivesse munido com uma tábua de engomar.

Por outro lado, MJ não se pode queixar de não ter treinador, já que o responsável pelos Barons era... Terry Francona, o actual técnico dos Boston Red Sox, bicampeão da World Series e que quebrou o jejum da equipa de Massaschusetts de 86 anos sem vencer. Sobre Jordan na altura... Francona queixava-se que transformava a equipa num circo devido à perseguição dos jornalistas.

Satisfeito com a incursão no basebol, Michael Jordan convocou uma conferência de imprensa, mas limitou-se a dizer uma frase: "I'm back". O resto toda a gente sabe. Mais três títulos de campeões, dois de MVP da Liga e três de MVP da final.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Política desportiva

O que têm em comum Fidel Castro, Barack Obama, Vladimir Putin, José Sócrates, George W. Bush, Evo Morales e Hu Jintao além da política? Na verdade, todos eles demonstraram no passado, ou continuam a demonstrar, atracção pelo desporto.

Em Portugal, o primeiro-ministro José Sócrates é conhecido pelos hábitos de corrida, que o levaram inclusivamente a percorrer a Praça Vermelha, em Moscovo, sob forte escolta policial. Ainda assim, Sócrates confirma apenas uma tendência clara.

Fidel Castro, o antigo Presidente cubano, notabilizou-se no desporto durante a vida estudantil, chegando mesmo a ser galardoado com o prémio de melhor atleta do liceu e, aos 21 anos, foi o lançador da equipa de basebol.

Do outro lado do Mundo, o Presidente chinês Hu Jintao demonstrou na promoção dos Jogos Olímpicos de Pequim as capacidades, quase que inatas no país, para praticar ténis de mesa.

União. Os ideais políticos opostos são esquecidos quando se entra em campo. Neste sentido, um comentador de futebol zambiano, Dennis Liwewe, afirma no documentário “Lusaka Sunrise” de Silas Hagerty, que “não é fácil juntar 73 tribos diferentes que falam literalmente 73 dialectos diferentes num só grupo e o futebol desempenha um papel fundamental para garantir esta união”.

A ideia de Liwewe é confirmada internacionalmente. O desporto não é comum a apenas uma facção política, mas tem o condão de reunir várias. Nos Estados Unidos, o antigo e o actual Presidente representam partidos distintos, mas unem-se através do desporto. No passado, o republicano Bush teve um papel activo na gestão da equipa de basebol Texas Rangers, enquanto o democrata Barack Obama é um assíduo praticante de basquetebol.

Já Vladimir Putin, actual primeiro-ministro russo, ostenta no currículo o título de campeão de São Petersburgo no judo, sendo actualmente o presidente do clube onde aprendeu a modalidade enquanto jovem.

Futebol. Na política existe também quem gostasse de seguir as pisadas de Cristiano Ronaldo. Nestas quatro linhas, destaque para o Presidente boliviano Evo Morales, que aos 47 anos continua a jogar e recentemente teve papel activo na luta contra a FIFA para demonstrar que não há riscos de jogar em altitude.

A história tem também casos de atletas que tentam enveredar pela política, mas o sem sucesso. Em 2005, George Weah perdeu a corrida para as eleições presidenciais da Libéria.

Mais a sério. O actual líder da monarquia espanhola, o rei Don Juan Carlos, competiu na classe Dragão, em vela,mas ficou fora dos lugares de medalha. Anders Fogh Rasmussen, primeiro-ministro dinamarquês, já subiu o AlpeD’Huez na companhia do antigo ciclista Bjarne Riis.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Datas... de nascimento e não só

Hoje é 1 de Dezembro de 2008. Um dos destaques deste dia é, sem margem para discussão, o facto de marcar a Restauração de Independência portuguesa face aos espanhóis em 1640, mas é também o aniversário de um dos clubes de futebol português mais antigos: a Sociedade União 1.º de Dezembro, de Sintra, que foi fundado em 1880.

O 1.º de Dezembro é um clube invulgar pelo nome, pelo facto de remeter para uma data histórica. O maior exemplo será a Naval 1.º de Maio, que marca presença no principal escalão de futebol, mas a verdade é que os figueirenses não são conhecidos por 1.º de Maio. No entanto, do outro lado do oceano, existe um país onde as datas de baptismo nos clubes são quase como uma tradição.

Deixemos Portugal por uns minutos e aterremos no Paraguai. Num campeonato principal com apenas 12 equipas, três delas são reconhecidas por uma data. Verdade seja dita. Se antes destas linhas que lê lhe perguntassem o que significa 12 de Outubro, 2 de Maio e 3 de Fevereiro, o que diria? Acredito que "clube do Paraguai" seria a última a resposta a passar-lhe pela cabeça.

A partir do momento em que se sabe a resposta, será mais fácil tentar descobrir que todas estas datas não significam apenas a data em que o clube foi fundado, mas também que representam uma marca na história paraguaia. Aconselho, então, a irmos caso a caso, respeitando a classificação actual.

O 12 de Outubro é o melhor classificado dos três e ocupa actualmente a oitava posição. De certa forma, esta é já uma evidência de que são clubes com pouca afirmação, comparativamente a outros como Olimpia, Libertad e Cerro Porteño. Mas voltemos ao objectivo. Por que se chama 12 de Outubro ao 12 de Outubro? Será importante começar por dizer que o 12 de Outubro foi fundado a... 14 de Agosto. Antes, em 1811, foi neste dia que o governo de Buenos Aires (Argentina) assinou o Tratado de Amizade, Auxílio e Comércio que reconhecia como independente a província do Paraguai.

Para a frente no texto, para trás nas datas. Chegámos a 3 de Fevereiro, o antepenúltimo da classificação a uma jornada do fim. Facto a reter: o 3 de Fevereiro foi fundado a... 20 de Novembro de 1970. Criado por vários habitantes da Ciudad del Este, o 3 de Fevereiro honra a data em que a cidade foi fundada, 13 anos antes. Curiosamente, a data tem ainda um significado premonitório, já que foi nesse dia, mas em 1989 que se realizou o golpe de Estado contra o ditador Alfredo Stroessner.

Finalmente, o 2 de Maio, penúltimo da classificação. Para não variar, em todo este esquema de facilitar as datas, o 2 de Maio foi fundado a... 6 de Dezembro. Neste caso, o 2 de Maio não significa uma data em si, já que foi criado por ex-combatentes paraguaios na Guerra del Chaco, que eram membros do Regimento da Infantaria 2 de Maio.

Nós por cá, os portugueses, até preferimos facilitar as coisas, apesar de toda a fama. É que o 1º de Dezembro foi fundado a 1 de Dezembro e a Naval 1.º de Maio também foi criada a 1 de Maio. Enfim, portuguesices.